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PERCURSO HISTÓRICO DA RAZÃO E SUAS FUNÇÕES NA VIDA SOCIAL EM JURGEN HABERMAS
Autor: José Vandinei da Silva
Jurgen Habermas* foi um
grande critico da escola de Frankfurt e construiu um legado muito rico acerca
da racionalidade. Diante da concepção de
razão defendida por muitos autores clássicos ele desponta como uma nova visão e
interpretação da filosofia.
Ele
defende que o conhecimento não provém unicamente do produto da relação sujeito
e objeto ou de uma razão fechada em si mesma como defendeu muitos filósofos
anteriores. O conhecimento é fruto de uma inter-relação entre sujeitos “capazes
de falar e de agir” (HABERMAS, O
discurso filosófico da modernidade, p.276).
A
teoria da racionalidade situa-se na modernidade e é nesta que se expressará de
forma comunicativa na visão de Habermas. Esta teoria será um caminho
alternativo perante a grande dificuldade trazida pela crise cultural na qual
esta modernidade está mergulhada.
Na
visão habermasiana a razão passou por um longo processo histórico no qual ela
tornou-se um mero joguete, que seria utilizada para fins determinados segundo
as pretensões técnico-instrumentais. Ou seja, a razão passou a ser tida como
instrumental com relação a fins. Esta razão instrumental serviria,
principalmente na sociedade moderna, para alcançar fins como o domínio da
sociedade seja no campo das ciências da ação, seja no campo simbólico cultural. O
resgate da razão seria a única saída deste mundo-da-vida pleno de alienações e
dominações, provocadas pelo mau uso da razão. “Faz-se urgente o trabalho de
‘descolonização do mundo-da-vida’ e esta descolonização só será possível por
meio do resgate da ‘razão comunicativa’ ”. (MENEZES, Habermas: com Frankfurt e além de Frankfurt, p. 85).
O
que se pode verificar como característica intrínseca à modernidade é que houve
uma má utilização da razão, isto é, a razão tecnocrática e científica criou um
processo ilusório que se utilizava da epistemologia para orientar-se. Porém, em
vez de libertária tornou-se alienante na medida em que ocasionava perda do
valor da vida mediante a cristalização de uma razão autoritária e arbitrária.
Para
Habermas a razão ganhará um papel muito significativo porque se mostra como uma
alternativa nova e pertinente perante as explicações míticas e fictícias.
Porém, a pretensão da razão de tornar-se libertária para homem sob o jugo do
mundo ilusório transforma-se em seu oposto, isto é, ela provocará a
coisificação da vida humana. Em outras palavras poder-se-ia dizer que a razão
transformou-se em uma ferramenta instrumental aliada à técnica e à ciência
aprisionada em um mundo instrumental.
Porém, a razão
tem um papel extremamente importante na libertação do homem. O tipo de razão a
que Habermas se refere é a razão comunicativa. Na história da humanidade a
razão recebeu papeis diferentes criando mundos e sociedades também diferentes.
De acordo com o uso da razão, por exemplo, pôde-se referir ao mundo da ciência,
da moral ou da arte. Urge na sociedade moderna uma razão comunicativa que é
caracterizada pela comunicabilidade dos sujeitos tendo a linguagem como
mediadora. A reflexão filosófica não pode desconsiderar as diferentes
manifestações da razão. A veracidade é
pautada no discurso e na comunicabilidade e não na auto afirmação ou purismo da
razão.
Só a razão reduzida
à capacidade subjetiva de
entendimento e de actividade teleológica corresponde à imagem de uma razão
exclusiva que, quanto mais aspira triunfalmente às alturas se desenraiza até
finalmente cair, vítima da força da sua oculta origem heterogênea. (HABERMAS, O discurso filosófico da
modernidade, p.284)
Habermas
evidencia o papel da diversidade, caso contrário, a razão estará fadada ao
fracasso. O consenso estabelecido aqui favorece a formação de uma rede de
interações sociais que elaboram possíveis soluções para diversas questões
pertinentes no mundo da vida.
Essa racionalidade comunicativa exprime-se na força unificadora da fala
orientada ao entendimento mútuo, discurso que assegura aos falantes envolvidos
um mundo da vida intersubjetivamente partilhado e, ao mesmo tempo, o horizonte
no interior do qual todos podem se referir a um único e mesmo mundo objetivo.(HABERMAS, Verdade e Justificação, p.107)
Na
citação acima habermans valoriza a comunicação como essencial na criação de
sentido para o mundo da vida. Desta forma, não é possível aceitar uma razão
excludente e autoritária. O saber é democrático. É justamente por isso que a
razão comunicativa torna-se o emblema mais claro do pensamento deste filósofo e
serve de alternativa ante a razão iluminista e instrumental que encobre todo
tipo de dominação. Segundo o
autor, duas esferas coexistem na sociedade: o sistema e o mundo
da vida. O sistema refere-se à 'reprodução material', regida pela lógica
instrumental (adequação de meios a fins), incorporada nas relações hierárquicas
(poder político) e de intercâmbio (economia). No
dialogo comunicativo, não é o sujeito isolado que lançará alternativas eficazes
aos problemas atuais, mas, ao contrario será o conjunto dos seres ou sujeitos não-excludentes que formam uma
comunidade comunicativa que elaborará possíveis respostas às questões
pertinentes ao mundo atual.
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[*]Jurgen
Habermas nasceu em 1929, em Dusseldorf. Estudou Filosofia, História,
Psicologia, Economia e Literatura alemã nas universidades de Gottingen, Zurique
e Bonn. Doutorou-se em 1954 com uma tese sobre “O Absoluto na História – um
Estudo sobre a Filosofia das Idades do Mundo, de Schelling”. Em 1961,
conquistou a livre-docência pela Universidade de Marburgo. Entre 1961 e 1964
foi professor de Sociologia e Filosofia da Universidade de Frankfurt. Em 1971
exerceu as funções de Professor Visitante da Universidade de Princeton.O nome
dele está intimamente associado ao da escola de Frankfurt. Com a morte de Adorno,
Horkheimer e Marcuse – Habermas torna-se o ultimo representante da Teoria
Critica da Sociedade.
REFERENCIAS:
FREITAS, Alex Martins de. Racionalidade
comunicativa na filosofia de Jürgen Habermas. 2008. Disponível no site: http://pensamentoextemporaneo.wordpress.com/2009/06/27/racionalidade-comunicativa-na-filosofia-de-jurgen-habermas/. Acesso
em: 06 – out. 2011.
HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade. Trad. Ana Maria Bernardo et al. Lisboa: Dom Quixote,
1990.
HABERMAS, Jürgen. Verdade e Justificação:
ensaios filosóficos. Trad. Milton Camargo Mota. São Paulo: Loyola, 2004.
MENEZES, Anderson de Alencar. Habermas com Frankfurt
e além de Frankfurt; Instituto Salesiano de Filosofia. – Recife: Faculdade
Salesiana do Nordeste, 2006.
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