terça-feira, 15 de novembro de 2011

O PERCURSO HISTÓRICO DA RAZÃO


O PERCURSO HISTÓRICO DA RAZÃO E SUAS FUNÇÕES NA VIDA SOCIAL EM JURGEN HABERMAS
Autor: José Vandinei da Silva


Jurgen Habermas* foi um grande critico da escola de Frankfurt e construiu um legado muito rico acerca da racionalidade.  Diante da concepção de razão defendida por muitos autores clássicos ele desponta como uma nova visão e interpretação da filosofia.
            Ele defende que o conhecimento não provém unicamente do produto da relação sujeito e objeto ou de uma razão fechada em si mesma como defendeu muitos filósofos anteriores. O conhecimento é fruto de uma inter-relação entre sujeitos “capazes de falar e de agir” (HABERMAS, O discurso filosófico da modernidade, p.276).
            A teoria da racionalidade situa-se na modernidade e é nesta que se expressará de forma comunicativa na visão de Habermas. Esta teoria será um caminho alternativo perante a grande dificuldade trazida pela crise cultural na qual esta modernidade está mergulhada. 


            Na visão habermasiana a razão passou por um longo processo histórico no qual ela tornou-se um mero joguete, que seria utilizada para fins determinados segundo as pretensões técnico-instrumentais. Ou seja, a razão passou a ser tida como instrumental com relação a fins. Esta razão instrumental serviria, principalmente na sociedade moderna, para alcançar fins como o domínio da sociedade seja no campo das ciências da ação, seja no campo simbólico cultural. O resgate da razão seria a única saída deste mundo-da-vida pleno de alienações e dominações, provocadas pelo mau uso da razão. “Faz-se urgente o trabalho de ‘descolonização do mundo-da-vida’ e esta descolonização só será possível por meio do resgate da ‘razão comunicativa’ ”. (MENEZES, Habermas: com Frankfurt e além de Frankfurt, p. 85).
            O que se pode verificar como característica intrínseca à modernidade é que houve uma má utilização da razão, isto é, a razão tecnocrática e científica criou um processo ilusório que se utilizava da epistemologia para orientar-se. Porém, em vez de libertária tornou-se alienante na medida em que ocasionava perda do valor da vida mediante a cristalização de uma razão autoritária e arbitrária. 

            Para Habermas a razão ganhará um papel muito significativo porque se mostra como uma alternativa nova e pertinente perante as explicações míticas e fictícias. Porém, a pretensão da razão de tornar-se libertária para homem sob o jugo do mundo ilusório transforma-se em seu oposto, isto é, ela provocará a coisificação da vida humana. Em outras palavras poder-se-ia dizer que a razão transformou-se em uma ferramenta instrumental aliada à técnica e à ciência aprisionada em um mundo instrumental.
Porém, a razão tem um papel extremamente importante na libertação do homem. O tipo de razão a que Habermas se refere é a razão comunicativa. Na história da humanidade a razão recebeu papeis diferentes criando mundos e sociedades também diferentes. De acordo com o uso da razão, por exemplo, pôde-se referir ao mundo da ciência, da moral ou da arte. Urge na sociedade moderna uma razão comunicativa que é caracterizada pela comunicabilidade dos sujeitos tendo a linguagem como mediadora. A reflexão filosófica não pode desconsiderar as diferentes manifestações da razão. A  veracidade é pautada no discurso e na comunicabilidade e não na auto afirmação ou purismo da razão.    
Só a razão reduzida à capacidade subjetiva de entendimento e de actividade teleológica corresponde à imagem de uma razão exclusiva que, quanto mais aspira triunfalmente às alturas se desenraiza até finalmente cair, vítima da força da sua oculta origem heterogênea. (HABERMAS, O discurso filosófico da modernidade, p.284)

            Habermas evidencia o papel da diversidade, caso contrário, a razão estará fadada ao fracasso. O consenso estabelecido aqui favorece a formação de uma rede de interações sociais que elaboram possíveis soluções para diversas questões pertinentes no mundo da vida.

Essa racionalidade comunicativa exprime-se na força unificadora da fala orientada ao entendimento mútuo, discurso que assegura aos falantes envolvidos um mundo da vida intersubjetivamente partilhado e, ao mesmo tempo, o horizonte no interior do qual todos podem se referir a um único e mesmo mundo objetivo.(HABERMAS, Verdade e Justificação, p.107)
            Na citação acima habermans valoriza a comunicação como essencial na criação de sentido para o mundo da vida. Desta forma, não é possível aceitar uma razão excludente e autoritária. O saber é democrático. É justamente por isso que a razão comunicativa torna-se o emblema mais claro do pensamento deste filósofo e serve de alternativa ante a razão iluminista e instrumental que encobre todo tipo de dominação. Segundo o autor, duas esferas coexistem na sociedade: o sistema e o mundo da vida. O sistema refere-se à 'reprodução material', regida pela lógica instrumental (adequação de meios a fins), incorporada nas relações hierárquicas (poder político) e de intercâmbio (economia). No dialogo comunicativo, não é o sujeito isolado que lançará alternativas eficazes aos problemas atuais, mas, ao contrario será o conjunto dos seres ou sujeitos não-excludentes que formam uma comunidade comunicativa que elaborará possíveis respostas às questões pertinentes ao mundo atual.

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[*]Jurgen Habermas nasceu em 1929, em Dusseldorf. Estudou Filosofia, História, Psicologia, Economia e Literatura alemã nas universidades de Gottingen, Zurique e Bonn. Doutorou-se em 1954 com uma tese sobre “O Absoluto na História – um Estudo sobre a Filosofia das Idades do Mundo, de Schelling”. Em 1961, conquistou a livre-docência pela Universidade de Marburgo. Entre 1961 e 1964 foi professor de Sociologia e Filosofia da Universidade de Frankfurt. Em 1971 exerceu as funções de Professor Visitante da Universidade de Princeton.O nome dele está intimamente associado ao da escola de Frankfurt. Com a morte de Adorno, Horkheimer e Marcuse – Habermas torna-se o ultimo representante da Teoria Critica da Sociedade.


REFERENCIAS:

FREITAS, Alex Martins de. Racionalidade comunicativa na filosofia de Jürgen Habermas. 2008. Disponível no site: http://pensamentoextemporaneo.wordpress.com/2009/06/27/racionalidade-comunicativa-na-filosofia-de-jurgen-habermas/. Acesso em: 06 – out. 2011.
HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade. Trad. Ana Maria Bernardo et al. Lisboa: Dom Quixote, 1990.
HABERMAS, Jürgen. Verdade e Justificação: ensaios filosóficos. Trad. Milton Camargo Mota. São Paulo: Loyola, 2004.
MENEZES, Anderson de Alencar. Habermas com Frankfurt e além de Frankfurt; Instituto Salesiano de Filosofia. – Recife: Faculdade Salesiana do Nordeste, 2006.

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