domingo, 25 de dezembro de 2011

Nietzsche


 
O Caminho da Felicidade  
Um sábio perguntava a um louco qual era o caminho da felicidade. O louco respondeu-lhe imediatamente, como alguém a quem se pergunta o caminho da cidade vizinha: «Admira-te a ti mesmo e vive na rua». «Alto lá», exclamou o sábio, «pedes demais, basta já que nos admiremos!» E o louco respondeu logo: «Mas como admirar sem cessar se não nos desprezarmos constantemente?»


Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Os Vários Tipos de Amor

Os Vários Tipos de Amor  

René DescartesParece-me que podemos, com maior razão, distinguir o amor em função da estima que temos pelo que amamos, em comparação com nós mesmos. Pois quando estimamos o objecto do nosso amor menos que a nós mesmos, temos por ele apenas uma simples afeição; quando o estimamos tanto quanto a nós mesmos, a isso se chama amizade; e quando o estimamos mais, a paixão que temos pode ser denominada como devoção. Assim, podemos te afeição por uma flor, por um pássaro, por um cavalo; porém, a menos que o nosso espírito seja muito desajustado, apenas por seres humanos podemos ter amizade. E de tal maneira eles são objecto dessa paixão que não há homem tão imperfeito que não possamos ter por ele uma amizade muito perfeita, quando pensamos que somos amados por ele e quando temos a alma verdadeiramente nobre e generosa. Quanto à devoção, o seu principal objecto é sem dúvida a soberana divindade, da qual não poderíamos deixar de ser devotos quando a conhecemos como se deve conhecer. Mas também podemos ter devoção pelo nosso príncipe, pelo nosso país, pela nossa cidade, e mesmo por um homem particular quando o estimamos muito mais que a nós mesmos. Ora, a diferença que há entre esses três tipos de amor manifesta-se principalmente pelos seus efeitos; pois, como em todos nos consideramos juntos e unidos à coisa amada, estamos sempre dispostos a abandonar a menor parte do todo que compomos com ela, para conservar a outra.
Isto leva-nos, na simples afeição, a sempre nos preferirmos ao que amamos; e, na devoção, ao contrário, a preferirmos a coisa amada e não a nós mesmos, de tal forma que não hesitamos em morrer para a conservar. Frequentemente se viram exemplos disso, nos que se expuseram à morte certa para defender o seu príncipe ou a sua cidade, e mesmo às vezes pessoas particulares às quais se tinham devotado por inteiro.

René Descartes, in 'As Paixões da Alma'

domingo, 18 de dezembro de 2011

EPICTETO

 
O Caminho para o Sucesso 
é Incompreendido pelos Outros. Se desejas ser bem sucedido, resigna-te, caro, face às coisas exteriores... Mesmo que saibas, não mostres qualquer saber; e se alguns te consideram alguém, desafia-te a ti próprio e desconfia de ti. Que saibas sempre, na verdade, que não é fácil de preservar a vontade em conformidade com a natureza, pois que, simultaneamente, sempre nos inquietamos com as solicitações do exterior.
Ora que fazer? Só uma regra necessária se impõe: quando nos ocupamos da vontade tendo a natureza por fundo (e nossa íntima intenção) só a uma coisa nos podemos obrigar - evitar qualquer desvio daquele nosso primeiro propósito.


Epicteto, in 'Manual'

sábado, 17 de dezembro de 2011



A IMPORTANCIA DO CONCEITO NO DISCURSO FILOSOFICO

A filosofia nasceu a partir do espanto, da admiração e da busca de conceitos. Porém, para Sócrates não era atividade fácil familiarizar-se com os conceitos, visto que a maioria absoluta das pessoas estava acostumada a receber passivamente os conceitos dados ou construídos por outrem. Mas, na filosofia o papel da reflexão e da construção de conceitos é uma atividade extremamente necessária. A passividade é inimiga desse processo, já que se não houver refutação ou argumentação (antilógica) não haverá construção, apenas repetições.
Os sofistas preocuparam-se com a retórica, isto é, com o poder da argumentação e da persuasão. Aristóteles, por sua vez, não se contentou e buscou a formulação e estruturação de um discurso válido que podemos denominar de silogismo. Esse processo de diferenciação foi fundamental para a ciência que se utiliza de conceitos e discursos.
Tanto a filosofia quanto a ciência necessitam do campo conceitual para formular suas teorias e teses. A investigação de pesquisadores  e o desenvolvimento de teorias dentro de uma determinada cultura dependem da capacidade de diferenciar os conceitos teóricos que determinam a praxis científica e social. A atividade filosófica será essencial porque estará baseada na tentativa de elucidar os significados dos conceitos e sua validade universal.
OS conceitos na filosofia são imprescindíveis porque sem eles não conseguiríamos ultrapassar as barreiras do mundo material/ sensível. Com eles pode-se elaborar uma metafísica que promoveria a integração da vida material com a alma (ou intelecto). Deste modo, o conceito assume a forma de necessidade universal, sem ele não poderíamos sequer existir enquanto ser racional e, por isso, estaríamos impedidos de filosofar e de atribuir significado às coisas. O conceito é o principal alimento da reflexão filosófica.

domingo, 11 de dezembro de 2011

A Felicidade pela Renúncia

António de Oliveira Salazar
A Felicidade pela Renúncia 
A felicidade é um estado de satisfação da alma, expressão de harmonia total entre as nossas aspirações e as realidades da vida. E por isso julgo mais simples atingir a felicidade pela renúncia do que pela procura e satisfação de necessidades sempre mais numerosas e intensas. A busca da felicidade exige, com efeito, supomos nós, um contínuo estado de insatisfação.


António de Oliveira Salazar, in 'Férias com Salazar

sábado, 10 de dezembro de 2011



O computador manipula dados ou conhecimentos?

            O conhecimento sempre esteve em pauta na história da filosofia que se debruçou prioritariamente na busca de sentido para os vários questionamentos humanos. O desafio para muitos filósofos é a busca de fundamentos para tudo o que o ser humano conhece. Uns acreditam que o sensível ou o inteligível ou os dois são a origem do conhecimento. A grande definição deste termo é elaborada por Platão na Grécia clássica, segundo ele o conhecimento provém de uma crença verdadeira e justificada.  Já para Aristóteles este conceito pode ser subdividido em três áreas diversas: científica, prática e técnica.
Porém, além dos conceitos dados por Platão e Aristóteles existe uma diversidade muito grande de tipos de conhecimentos produzidos pela humanidade: sensorial, intelectual, popular, cientifico, filosófico, teológico, intuitivo.







quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

ADORNO

Foto: Commons  
Um esquema que se tem confirmado na história de todas as perseguições é que a sanha contra os fracos dirige-se sobretudo contra os que são julgados socialmente débeis e ao mesmo tempo – com ou sem razão – felizes



THEODOR W. ADORNO “EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ”

domingo, 4 de dezembro de 2011

Karl Jaspers

A ânsia de uma orientação filosófica da vida nasce da obscuridade em que cada um se encontra, do desamparo que sente quando, em carência de amor, fica o vazio, do esquecimento de si quando, devorado pelo afadigamento, súbito acorda assustado e pergunta: que sou eu, que estou descurando, que deverei fazer? O homem precisa de se arrancar a si próprio para não se perder no mundo e em hábitos, em irreflectidas trivialidades e rotinas fixas...
Filosofar é decidirmo-nos a despertar em nós a origem, é reencontrarmo-nos e agir, ajudando-nos a nós próprios com todas as forças...
Orientar filosoficamente a vida não é esquecer, é assimilar, não é desviar-se, é recriar intimamente, não é julgar tudo resolvido, é clarificar...
São dois os seus caminhos: a meditação solitária por todos os meios de consciencialização e a comunicação com o semelhante por todos os meios da recíproca compreensão, no convívio da acção, do colóquio ou do silêncio.


Karl Jaspers, in 'Iniciação Filosófica'

sábado, 3 de dezembro de 2011

É possível ensinar a virtude cívica?



É possível ensinar a virtude cívica? 

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É possível preparar alguém para o exercício da cidadania através da educação?



Na Grécia antiga houve embates muitos fortes entre aqueles que se consideravam filósofos e os que foram chamados de sofistas. Porém, tanto estes quanto aqueles tinham uma preocupação filosófica: o uso da razão para um determinado fim. No caso dos sofistas a preocupação era o treino e o estudo das habilidades da fala, da argumentação (mundo da doxa). Já os “filósofos propriamente ditos” buscavam o conhecimento verdadeiro (a episteme, como os gregos a conheciam).
Diante do exposto acima, resta-nos a seguinte questão: é possível ensinar a virtude cívica? Antes de responder a esta pergunta cabe primeiramente saber o que significa virtude. Para Platão e Aristóteles esta era entendida como algo muito importante para a sociedade. Para eles a virtude era algo objetivo que todos os cidadãos deveriam saber para bem agir. Mas, é preciso enfatizar: a virtude é algo inato ou construída socialmente? Platão procurou a essência de cada virtude que julgava importante, já Aristóteles buscava a definição de tais virtudes (justiça, coragem, prudência, temperança, etc.). Independente da abordagem feita por cada um deles, o importante é que sabendo a essência ou a definição, a ação virtuosa ocorria necessariamente. Isto significa que a virtude poderia ser ensinada. Pois, se alguém não sabe o que é a virtude pode compreendê-la através da razão.