quarta-feira, 16 de novembro de 2011




Diferença entre mito e filosofia

Autor: José Vandinei da Silva


A mitologia em qualquer sociedade exerce um fascínio e pode ser vista como a primeira forma de explicação da realidade daquele povo ou comunidade. Diante de tantos eventos fantásticos que mexiam com o imaginário destes povos, recorria-se principalmente às explicações a partir da própria imaginação e das crenças religiosas da época.
A Grécia como qualquer outra civilização passou por esta mesma etapa, porem alguns fatos históricos marcaram uma cisão e os gregos começaram a enxergar novas maneiras de explicar a realidade. Um evento que antes se atribuía a um deus agora passa a ser explicado de forma diferente.  A utilização da razão passa a ser essencial para as investigações. Porém, isso não ocorreu de forma abrupta, mas de maneira lenta e gradual, graças às diversas modificações vivenciadas na Grécia. O comércio e as navegações proporcionaram contato com povos diferentes, a difusão da escrita para a população, a política e a democracia ateniense que valorizou a participação do cidadão. Todas essas modificações implicaram uma nova maneira de enxergar e interpretar a realidade.





A diferença básica entre mitologia e filosofia consiste no fato de que a primeira utiliza-se de narrativas fantásticas e imaginárias para explicar a realidade já a segunda baseia-se em explicações com a condição essencial do uso da razão, trata-se de explicações racionais para os acontecimentos e para a origem do universo e do homem. Outra diferença substancial entre o mito e a filosofia baseia-se na possibilidade (no caso da filosofia) e na impossibilidade ( no caso da mitologia) de refutação ou negação de uma determinada explicação. Em outras palavras, na mitologia a sociedade compartilhava aquela explicação sem direito de negá-la. Na filosofia, entretanto, cada individuo poderia sugerir, com base na razão, uma determinada explicação da realidade que poderia ser questionada ou aperfeiçoada. Portanto, na filosofia há possibilidade de questionamento e problemática das questões. No mito a inteligibilidade é dada a um individuo pelo seu grupo e na filosofia ela é procurada.
O grande desafio é como transmitir essas diferenças aos alunos. Geralmente é utilizada uma simplificação que acaba gerando no aluno certa rejeição à mitologia. Muitas vezes é dito ao aluno que a diferença é que mito é uma mentira e filosofia a verdade. Esse simplismo pode gerar confusões. A mentira é criada com a finalidade de enganar, trapacear, encobrir uma realidade. O mito por sua vez tem a finalidade de tentativa de explicação de uma dada realidade. O ideal seria trabalhar com os alunos o fascínio das narrativas mitológicas através de filmes, gravuras, desenhos, textos e descobrir que realidade estava por trás e qual a verdadeira tentativa de explicação existe naquela narrativa. Só depois se sugeria a abordagem da filosofia como uma segunda etapa de um processo. Portanto, a filosofia é resultado de um processo e a mitologia é uma peça indispensável para compreender esse percurso.  

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