domingo, 3 de julho de 2011

MORAL, ÉTICA E FILOSOFIA



Prof. Vandinei Silva
- Licenciado em Filosofia
pelo Instituto Salesiano de Filosofia.


Diariamente nos deparamos com questões ou afirmações do tipo: Isso é moral, Movimento pela ética, ética profissional dos médicos. Esses são apenas alguns exemplos que nos fazem perceber que a moral e a ética fazem parte do nosso dia-a-dia e muitas vezes não percebemos porque já estão internalizadas em nós como questões naturais.   Mas o que é Moral? O que é Ética? Qual a diferença entre as duas? A moral é relativa? Esses são alguns princípios que tentarei trilhar neste pequeno texto.


CONCIÊNCIA 

A primeira coisa que precisamos ter claro é que somos seres de consciência e é ela que nos distingue de outros seres justamente pelo alcance em nossa vida e em nossas ações. Para compreender melhor essa importância e esse distintivo humano suponhamos duas situações hipotéticas:

1. PAULO PERDEU A CONSCIÊNCIA

2. PAULO AGIU DE ACORDO COM A CONSCIÊNCIA.

Na primeira situação perder a consciência é perder o sentido da existência de nós mesmos e do mundo. Quando estamos despertos, esse sentimento nos acompanha durante toda a vida em todas as nossas ações. Trata-se de uma CONSCIÊNCIA PSICOLÓGICA, que é o conhecimento de nós mesmos e do mundo que nos cerca. Temos consciência, por exemplo, de existir, das lembranças e dos sentimentos que nos assalta durante toda a nossa vida, dos nossos estados psíquicos, de que há um livro em cima da mesa , de que o dia está chuvoso ou ensolarado. Portanto, a consciência se estende à experiência do meio em que vivemos. Portanto. A CONSCIÊNCIA PSICOLÓGICA REVELA QUEM SOMOS, O QUE FAZEMOS E QUE MUNDO NOS RODEIA.

Já na segunda situação o sentido que podemos abstrair de consciência fala de CONSCIÊNCIA MORAL. Esta consciência refere-se aquele pensamento interior que nos orienta, de maneira pessoal, sobre o que devemos fazer em uma determinada situação que nos deparamos. Antes de agirmos a consciência nos alerta e nos orienta emitindo juízos (como uma voz interior). Após a realização da ação, a consciência moral volta a se manifestar como um sentimento que pode ser tanto de SATISFAÇÃO (recompensa pelo que se fez de bom ou de acordo com a norma) ou ainda um sentimento de REMORÇO (condenação pelo que se praticou contra as normas ou contra aquilo que é determinado socialmente como tolerável).

Diferentemente de nós humanos que agimos e julgamos de acordo com uma consciência que nos rege constantemente os animais, por sua vez, são amorais. Estes não possuem consciência e as suas ações são determinadas ou pelo instinto ou por adestramento que condiciona. Para ficar bastante clara essa distinção entre o agir humano e agir instintivo, próprio dos animais irracionais, utilizemos a hipótese de uma situação de Fome. Os animais irracionais procurarão satisfazer sua necessidade de forma imediata e voraz. Já o homem pode optar por abstenção de alimento por estar fazendo regime, por motivo de protesto (em uma greve de fome), ou optar por um ou outro alimento de acordo com o que lhe apetece. Ou seja, o homem age dentro de um significado histórico e cultural.

Um exemplo muito comum das grandes cidades e rodovias do país é o ATROPELAMENTO- após um atropelamento o motorista responsável pelo acontecimento pode ter dois comportamentos diferentes. Ele pode prestar socorro/assistência à vítima ou fugir e se negar assumir qualquer responsabilidade pelo fato. Ele toma uma decisão e independente do que escolha ele torna-se responsável moral e socialmente pela sua escolha. Mas se nesse acidente ele perde a consciência, não terá nenhum comportamento, porque estará desmaiado, fora de sua consciência. Portanto, existem 3 componentes fundamentais da vida MORAL:

CONSCIÊNCIA - LIBERDADE - RESPONSABILIDADE

MORAL

A moral é algo prático e imediato que faz parte da vida quotidiana dos indivíduos e das sociedades. Isso se deve não apenas ao fato de tratar-se de um conjunto de regras e normas que regem as nossas ações, dizendo o que devemos ou não fazer, mas também porque está embutida em nossos discursos e juízos de valor.

As normas morais são regras de convivência social ou guias de ação, porque nos dizem o que devemos ou não fazer e como fazer. As normas morais obedecem sempre a três princípios. Primeiro, são sempre caracterizadas por uma auto-obrigação, ou seja, valem por si mesmas, independente do exterior, são essências do ponto de vista de cada um. O segundo aspecto é a universalidade, e são universais porque a moral é própria de todo ser humano, é uma característica imprescindível do ser humano, variando apenas com o tempo e com a cultura a que pertence, portanto ela é relativa. O ultimo princípio diz respeito á incondicionalidade, isto é, são praticadas sem outra intenção ou finalidade que não ela própria.

ÉTICA

A ética trata-se de uma REFLEXÃO filosófica da moral. É o CONJUNTO de valores e princípios que nós utilizamos para decidir as três grandes questões da vida:

O que Quero? o que Devo? e o que Posso?


Em muitas decisões da nossa vida nos afrontamos com situações em que queremos fazer algo, mas não devemos ou podemos querer algo mas não poder ou poder mas não querer ou ainda podemos mas não devemos. Diante dessas situações de conflitos e choques o que devemos fazer? Na verdade estaremos em HARMONIA quando esses três princípios estiverem em ACORDO, ou seja, quando o que eu quero for aquilo que posso e que devo fazer. Portanto, a ÉTICA são os princípios, ou seja, aquilo que nos rege e MORAL é ALGO PRÁTICO: Leis, Normas, Ações. A ética não é relativa, a moral é que é relativa. A ÉTICA sempre está inserida em uma época, mas ela tem uma tentativa de ser UNIVERSAL. Ex: DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS – a pessoa tem que ser respeitada e não pode haver discriminação contra a pessoa humana independe de sua cor, raça ou nação.

Para HERÁCLITO, a ÉTICA estava relacionada à ÍNDOLE do sujeito, ou seja, acontecia de dentro para fora, para ele a ética era lago interno. Já ARISTÓTELES apresentou uma opinião contrária: para este o EXTERIOR É QUE DETERMINA O COMPORTAMENTO HUMANO. A versão de Aristóteles, contribuiu para a construção do conceito de MORAL que é relativo aos COSTUMES E NORMAS DE UMA SOCIEDADE EM UMA DETERMINDA ÉPOCA.



EX.1 : mutilação feminina – Tribo África – atitude cruel e IMORAL para o mundo mas para eles é moral porque faz parte de uma cultura estabelecida.

Ex 2: Três pessoas em um ponto de ônibus (dois homens e uma mulher sentada no meio dos dois)– a mulher, ao retirar o dinheiro da passagem, esquece a carteira. Os dois percebem o esquecimento, um deles quer tirar proveito da situação enquanto o outro numa atitude mais rápida e mais sábia de acordo com sua consciência devolve a carteira à dona – a ATITUDE do último partiu de CONVICÇÕES E PRINCÍPIOS E NÃO DE NORMAS OU REGRAS IMPOSTAS. Portanto, uma atitude ética.

Qual a diferença entre MORAL, AMORAL e IMORAL?

AMORAL – são aquelas pessoas que não podem DECIDIR, ESCOLHER ou JULGAR por si mesmas. Como é o caso de uma criança até certa idade, o idoso vítima do mal de alzaimer, por exemplo, pessoa com alguma patologia cerebral. Estas pessoas não podem ser responsabilizadas civilmente por uma atitude que por ser condenável porque não detém uma consciência plena ou sadia

IMORAL – São aquelas que vão de encontro com a moral aceita em uma dada sociedade ou cultura.

MORAL – São as ações que são determinadas e aceitas por normas e leis estabelecidas em um consenso social, pertencente a uma cultura.

Para finalizar uma lição do cristianismo vem das palavras do apostolo cristão Paulo quando ele diz em uma de suas cartas contidas no Novo Testamento: “Tudo lhe é lícito, mas nem tudo lhe convém”. Ou seja, eu posso fazer qualquer coisa porque eu sou livre, mas eu não devo porque preciso respeitar os limites para o bem do outro. Jesus também disse: “De nada adianta ao homem ganhar o mundo se ele perde a sua alma”. PERDER A ALMA é perder a sua integridade, perder a capacidade de ser HONESTO, TRANSPARENTE, DIGNO.

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